Contribuição da Epagri para o desenvolvimento do conhecimento sobre o patossistema da cigarrinha-do-milho

As pesquisas desenvolvidas pela Epagri sobre o patossistema da cigarrinha-do-milho são fundamentais para compreender a dinâmica deste inseto vetor e os patógenos por ele transmitidos. O conhecimento gerado permite desenvolver estratégias de monitoramento e manejo mais eficientes, reduzindo perdas na produção de milho, cultura essencial para a economia catarinense. A aplicação científica também orienta produtores e técnicos na tomada de decisões, contribuindo para a sustentabilidade agrícola e para a segurança alimentar em Santa Catarina e no Brasil.
Eixos de pesquisa e aplicações práticas no campo
Panorama e impacto do complexo no estado e no Brasil
Além dos informes do programa Monitora Milho SC, divulgados semanalmente, outras informações voltadas ao setor produtivo foram publicadas no início do surto epidêmico na safra de 2020/21. A Nota Técnica 2021 e artigos na Revista Agropecuária Catarinense, abordam o panorama do problema causado pelo patossistema do complexo de enfezamento e viroses em Santa Catarina e ações de manejo para mitigação de perdas e prejuízos. Os dados obtidos durante o monitoramento são, por vezes, traduzidos em recomendações gerais usadas para orientar o setor produtivo visando a convivência com o complexo de enfezamentos (Informe Técnico n° 32/2024). O relato da cigarrinha-africana (Nota Técnica 2023; Plant Disease 2024) trouxe grande preocupação para o setor produtivo. No entanto, a Epagri esclareceu que a cigarrinha poderia adquirir os patógenos, mas não necessariamente transmiti-los, tranquilizando os produtores.
Diversidade genética da cigarrinha e sua infecção com patógenos do milho
Um dos principais avanços foi compreender a variabilidade genética das populações da cigarrinha no Brasil e no estado de Santa Catarina. Estudo publicado na Neotropical Entomology mostra como diferentes populações de D. maidis variam, melhorando a compreensão da bioecologia do inseto, sua distribuição territorial e a possível relação com a infecção por patógenos. Estas informações são fundamentais para o planejamento de estratégias regionais de manejo.
Desenvolvimento de ferramentas moleculares de diagnóstico
Outro destaque é o desenvolvimento de métodos moleculares rápidos e precisos para detectar os patógenos em plantas e insetos, permitindo monitorar com mais agilidade a presença das bactérias dos enfezamentos e vírus associados a amostras de plantas de milho e cigarrinhas. Esta inovação foi descrita em artigo da Tropical Plant Pathology e fortalece a importância do monitoramento constante no campo.
Interações planta-patógeno-vetor
Pesquisas da Epagri e entidades colaboradoras também investigaram como os patógenos afetam o metabolismo do milho e como isso pode influenciar as respostas de defesa da planta, interferindo no comportamento do vetor. Um trabalho realizado em colaboração com universidades, publicado em uma revista sobre efeitos fisiológicos e moleculares da patologia de plantas, revelou alterações severas em compostos bioquímicos, elementos químicos e perfis metabolômicos de plantas infectadas pelo vírus do raiado fino (MRFV). Em outro estudo foi relatado que o fitoplasma do enfezamento-vermelho provoca alterações na emissão de voláteis em híbrido infectado, influenciando o comportamento da cigarrinha vetora. Além disso, um artigo se debruçou sobre as diferenças no progresso da doença e as respostas bioquímicas de defesa em genótipos com diferentes níveis de suscetibilidade ao espiroplasma do enfezamento-pálido. Pesquisas também têm revelado detalhes sobre a transmissão dos patógenos. Estudos indicam que machos e fêmeas de cigarrinha apresentam diferentes níveis de eficiência na transmissão do fitoplasma do enfezamento-vermelho, desempenhando papéis epidemiológicos distintos no avanço da doença.
Resistência e suscetibilidade de genótipos de milho
Além do estudo realizado em casa de vegetação sobre as diferenças entre as respostas bioquímicas de defesa da planta em genótipos com diferentes níveis de suscetibilidade ao espiroplasma do enfezamento-pálido, a Epagri também documentou o impacto da doença em diferentes genótipos de milho. O levantamento foi realizado em campo, nas cidades de Chapecó e Campos Novos. O estudo conduzido em Chapecó, demonstra que o vírus do raiado fino, que por vezes, tem seus impactos negligenciados, pode ocasionar perdas significativas na produção, o que reforça a importância de escolher sementes de híbridos mais tolerantes como medida de mitigação. A pesquisa realizada em Campos Novos, verificou a variabilidade na resposta de genótipos de milho convencionais e transgênicos, evidenciando correlação negativa entre severidade e produtividade. Estudos como os conduzidos por instituições públicas, como a Epagri, são fundamentais para gerar conhecimento sobre o desempenho dos materiais utilizados em lavouras comerciais frente ao complexo de enfezamentos e viroses, aprimorando as recomendações técnicas. Os resultados reforçam que genótipos menos afetados devem ser priorizados em regiões com alta pressão da praga.
Manejo integrado do vetor com químicos, botânicos e agentes biológicos
Publicações da Epagri também avaliam a eficácia de inseticidas para o controle da cigarrinha-do-milho. O Tratamento de sementes de milho para o inseto vetor, realizado em ensaios em casa-de-vegetação e em campo, mostram que imidacloprido e sua combinação com tiodicarbe apresentaram controle satisfatório nos primeiros estágios após a emergência da planta. No entanto, nenhum tratamento isolado diminuiu a incidência das doenças transmitidas pela cigarrinha nem aumentou a produtividade, mostrando que outras medidas de manejo devem ser aliadas ao tratamento de sementes. Pesquisas recentes avaliaram a eficácia de diferentes inseticidas, comparando produtos químicos e bioinseticidas de origem biológica. Os resultados mostraram que a maioria das misturas entre inseticidas e micoinseticidas (fungos entomopatogênicos) apresenta compatibilidade fisiológica, permitindo seu uso conjunto em misturas de tanque (Crop Protection 2023; Crop Protection 2025) (Figura).

Estes estudos apontam alternativas promissoras para reduzir a dependência de químicos e ampliar a sustentabilidade do manejo, além de discutir os impactos econômicos e sociais que o patossistema apresenta para o Brasil e, especificamente, para Santa Catarina, abordando os aspectos regionais e locais pertinentes ao Estado.
Links utilizados
- https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/infa/article/view/1858/1678
- https://www.epagri.sc.gov.br/nota-tecnica-cigarrinha-do-milho-e-o-complexo-de-enfezamentos
- https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/RAC/article/view/1144
- https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/rac/article/view/1161
- https://publicacoes.epagri.sc.gov.br/nt/article/view/1763
- https://doi.org/10.1007/s13744-025-01257-7
- https://doi.org/10.1094/PDIS-01-24-0142-SC
- https://link.springer.com/article/10.1007/s40858-022-00543-8
- https://doi.org/10.1016/j.pmpp.2024.102457
- https://doi.org/10.1007/s40858-022-00543-8
- https://doi.org/10.1007/s11829-025-10144-2
- https://doi.org/10.1007/s40858-023-00598-1
- https://www.researchgate.net/publication/326723056_Role_of_Dalbulus_maidis_Hemiptera_Cicadellidae_gender_on_maize_bushy_stunt_phytoplasma_transmission
- https://doi.org/10.1007/s40858-023-00609-1
- https://www.researchgate.net/publication/361259351_SEVERITY_OF_CORN_STUNT_DISEASE_ON_MAIZE_GENOTYPES_IN_THE_MIDWEST_OF_THE_BRAZILIAN_STATE_OF_SANTA_CATARINA
- https://doi.org/10.1007/s42690-025-01581-w
- https://doi.org/10.1007/s10343-025-01160-6
- https://doi.org/10.1016/j.cropro.2023.106417
- https://doi.org/10.1016/j.cropro.2025.107204
