O apoio de políticas públicas está impulsionando duas práticas sustentáveis nas lavouras catarinenses de arroz irrigado. O redimensionamento das taipas que limitam as quadras de cultivo e o manejo dos restos culturais usando rolo-faca ganham cada vez mais adeptos, estimulados pela Epagri e pelo apoio financeiro do Governo do Estado. Essas medidas são capazes de reduzir significativamente o impacto da produção de arroz sobre os mananciais hídricos e a emissão de gases de efeito estufa.
Manter as taipas reforçadas é fundamental para preservar a água na produção de arroz
Usar a água com responsabilidade é a primeira lição para quem produz arroz irrigado. Isso porque as lavouras são abastecidas por canais que conduzem a água de rios e córregos. A Epagri orienta os produtores sobre o uso eficiente desse recurso: para proteger os mananciais, é preciso manter as taipas das lavouras bem reforçadas, com altura e largura mínimas de 40 centímetros.
“Ter as taipas bem estruturadas é fundamental para evitar que o lodo formado no preparo do solo e até mesmo os produtos aplicados na lavoura escoem para os canais e cheguem aos rios”, destaca o engenheiro-agrônomo Douglas George de Oliveira, coordenador do projeto Grãos, na Epagri. Essa medida também permite aproveitar melhor a água da chuva, reduzindo o risco de enchentes e a dependência da agricultura pelo abastecimento dos rios.
Em 2024, a adoção dessa prática ganhou impulso em Santa Catarina com o projeto Água para Todos, da Secretaria de Agricultura e Pecuária. Essa linha de crédito oferece apoio financeiro para a compra da entaipadeira – um equipamento acoplado ao trator e capaz de redimensionar as taipas com rapidez, facilitando o trabalho dos produtores.
Esse equipamento pode ser financiado individualmente ou em grupo, com juro zero e cinco anos para pagar. Se pagar as parcelas em dia, o produtor recebe 50% de desconto. Apenas em 2024, os rizicultores catarinenses adquiriram 239 renovadoras de taipas com apoio dessa política pública.
Douglas estima que essas máquinas beneficiem mais de 700 famílias, o que equivale a 28 mil hectares de lavouras e 22,9 milhões de metros cúbicos de água economizada. “A política pública foi crucial na adoção da prática por parte dos produtores. Eles já estavam devidamente sensibilizados, mas precisavam de um incentivo na adoção”, diz.
As lavouras de arroz irrigado são o segundo maior emissor de gases de efeito estufa na agricultura brasileira – perdem apenas para a pecuária. Mas o manejo correto pode reduzir drasticamente essas emissões. A Epagri recomenda que, logo após a colheita, os produtores incorporem ao solo a palha das plantas que restou na área da lavoura.
Essa prática é determinante para reduzir a emissão de metano, um gás que se forma na decomposição dos restos vegetais após o alagamento da quadra. “Quando a palhada é incorporada ao solo de forma precoce, ela se decompõe mais rapidamente e não contribui para a emissão de metano na safra seguinte, quando a quadra é novamente alagada”, explica Douglas. A Epagri estima que pelo menos 70% dos rizicultores catarinenses pratiquem o manejo precoce da palha do arroz.
O rolo-faca é o equipamento mais adequado para fazer esse trabalho. “Esse não era um equipamento usual entre os agricultores, mas a política pública está ajudando a disseminar o uso. As pesquisas da Epagri e a experiência nas propriedades mostram que o rolo-faca tem impacto positivo tanto na redução das emissões de gases, quanto no desenvolvimento e na produtividade da lavoura”, diz o engenheiro-agrônomo.
Com apoio do Projeto Protegendo o Solo e Cultivando Água, da Secretaria da Agricultura e Pecuária, em 2024 os rizicultores catarinenses adquiriram 188 rolos-faca, que têm capacidade de atender 15 mil hectares de lavouras. O uso desse equipamento promoveu uma redução de emissão de 16,7 mil toneladas de CO2 equivalente – ou 62% a menos –, comparando-se com o mesmo cenário sem a incorporação da palha com rolo-faca.
Essa política pública beneficiou o agricultor Klisman Manenti, que cultiva 70 hectares de arroz em Jacinto Machado com o pai e o irmão. “Em 2024, financiei o rolo-faca com apoio da Epagri para pagar em cinco anos, com juro zero e 50% de desconto. É uma baita iniciativa, porque o equipamento ficou bem mais acessível. Vai contribuir muito para a adoção dessa prática em Santa Catarina”, destaca.
Mesmo usando outro equipamento, Klisman já fazia a incorporação da palha logo após a colheita porque via uma série de vantagens na produção de arroz. “A prática ajuda a reduzir a presença de plantas daninhas, insetos e doenças, e também melhora a fertilidade do solo. A questão da redução na emissão de carbono é mais recente para nós, e precisamos conscientizar todos os produtores de como essa medida é importante”, destaca.
Os estudos da Epagri com emissões de gases de efeito estufa iniciaram há mais de 20 anos e os resultados desse trabalho podem ser medidos nas lavouras. Estimativas baseadas no modelo do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) apontam que as práticas disseminadas pela Empresa reduziram entre 20% e 30% a emissão de metano na produção catarinense de arroz nos últimos anos.
De acordo com Marcos Campos do Vale, pesquisador da Epagri na Estação Experimental de Itajaí, essa cadeia produtiva catarinense já atinge a meta estabelecida mundialmente durante a COP 26, de reduzir em 30% as emissões de metano até 2030.
Quando o assunto é colheita, Santa Catarina também está na frente: é o segundo maior produtor do Brasil e líder em produtividade. De acordo com a Epagri/Cepa, o Estado produziu 1,16 milhão de toneladas na safra 2023/24, com produtividade de 8,7t/ha. O objetivo da Epagri é dar suporte para o crescimento desses números, garantindo que cada prato de arroz seja produzido de forma cada vez mais sustentável.
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