Epagri e agricultores revolucionam a produção de mandioquinha-salsa em Santa Catarina

A produção de mandioquinha-salsa deu a volta por cima em Santa Catarina: saiu da inviabilidade para alcançar o status de negócio altamente promissor nas propriedades rurais. A revolução que fez a produtividade média saltar de 12 para 35t/ha entre 2012 e 2024, com redução de 56% no custo de produção, foi liderada pela Epagri. A Empresa, através de um trabalho conjunto entre agricultores, extensionistas e pesquisadores, desenvolveu variedades da hortaliça adaptadas às diferentes regiões de Santa Catarina.

O objetivo foi resolver a origem do problema: a escassez de cultivares de mandioquinha-salsa adaptados às condições climáticas do Estado. Isso porque, desde 1998, as lavouras catarinenses tinham como referência apenas um material genético: o cultivar Senador Amaral. “A seleção e o plantio realizados sem critérios técnicos adequados resultaram, rapidamente, na degeneração genética. Isso reduziu a capacidade produtiva, aumentou a suscetibilidade a pragas e doenças, contribuiu para o aumento do custo de produção e inviabilizou o cultivo”, resume o extensionista da Epagri Marcelo Zanella.

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Variedades de mandioquinha-salsa lançadas pela Epagri são adaptadas às condições climáticas de Santa Catarina

Plantas selecionadas

O início desse trabalho tem raízes em 2012, quando a Epagri iniciou uma parceria com a Embrapa para testar novos materiais genéticos desenvolvidos por aquela empresa. As avaliações também incluíam plantas selecionadas por extensionistas e agricultores em lavouras do município de Angelina, na Grande Florianópolis. Essas plantas, nascidas de sementes oriundas de cruzamentos espontâneos, se destacavam em relação aos materiais da Embrapa, principalmente em rusticidade e produtividade.

A partir de 2021, com o envolvimento da área de pesquisa da Epagri, essas variedades foram testadas em Unidades de Avaliação Participativa (UAP) distribuídas em quatro regiões do Estado. O trabalho permitiu validar o desempenho superior desses materiais e culminou com o lançamento dos primeiros cultivares de mandioquinha-salsa catarinenses, em 2022: SCS380 Inca e SCS381 Coqueiral.

Sucesso imediato

O grande destaque dessas variedades é a produtividade de raízes, que fica acima de 30t/ha para a Inca e de 40t/ha para a Coqueiral. O rendimento médio da variedade Senador Amaral, usada como referência por ser a mais plantada no Brasil, é de 12t/ha.

Os materiais da Epagri também se destacam pela rusticidade diante de variações climáticas, resistência a pragas e doenças e maior quantidade de mudas produzidas por planta. Eles se adaptam melhor em regiões de clima ameno, acima de 600 metros de altitude, e devem ser plantados de abril a setembro. A colheita do cultivar Inca inicia a partir do oitavo mês, e do Coqueiral, a partir do nono mês.

A adesão da cadeia produtiva a essas tecnologias foi imediata. Em 2023, apenas um ano depois do lançamento, as variedades da Epagri alcançaram 98% da área cultivada em Santa Catarina e mais 90% da área cultivada no Paraná, totalizando aproximadamente 2 mil hectares. Já são cerca de 900 famílias rurais beneficiadas com essas tecnologias em Santa Catarina e 1,5 mil, somando os outros estados.

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Produtividade de raízes é um dos destaques dos cultivares lançados pela Epagri

Em terras catarinenses, o cultivo de mandioquinha-salsa ocorre em pequenas propriedades e tem participação importante na renda das famílias rurais. São aproximadamente 800ha na Grande Florianópolis, concentrados principalmente em Angelina, com 650ha. Nesse município, a cultura movimentou, em 2023, cerca de R$25 milhões na comercialização de raízes e R$10 milhões em venda de mudas para outros estados. Com tecnologia adequada, as lavouras estão se expandindo em outras regiões catarinenses, como Vale do Itajaí e Planalto Norte.

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As variedades Inca e Coqueiral já alcançaram 98% da área cultivada em Santa Catarina

Retomada da produção

Os cultivares da Epagri motivaram o agricultor Bruno Dias, de Angelina, a retomar a produção de mandioquinha-salsa. Assim como muitos produtores da região, ele e o pai haviam desistido dessa cultura devido à baixa produtividade. “Depois que conheci a variedade Coqueiral, começamos a plantar de novo e o rendimento foi bom. Ela dá uma raiz bem padrão, coloração boa, não dá mancha e é boa de trabalhar. Hoje, é minha principal fonte de renda”, conta o jovem. Bruno produz mandioquinha-salsa em sistema orgânico em uma área de 3ha. No manejo da cultura, segue todas as orientações técnicas da Epagri para escolha e preparo de mudas, assim como o manejo sanitário e nutricional das plantas. Na área de cultivo, trabalha com plantas de cobertura, seguindo os princípios do Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH).

... Bruno retomou a produção de mandioquinha-salsa e, com as variedades da Epagri, alcança produtividade de 39t/ha

Na lavoura conduzida em 2023, em 5 mil metros quadrados cultivados com a variedade Coqueiral, Bruno colheu 19,5t, o que equivale a uma produtividade de 39t/ha. Essa colheita garantiu uma renda de R$42,9 mil, com apenas 8% de custos de produção.

A qualidade das raízes também chamou a atenção. De 573 caixas colhidas, apenas 4 foram para descarte. “Isso dá menos de 1% de descarte, demonstrando o excelente potencial produtivo dos cultivares, assim como a qualidade do manejo em SPDH para que a cultura expressasse seu potencial produtivo”, avalia o extensionista Carlos Koerich, da Epagri.

Sustentabilidade no foco

A Epagri estuda e difunde tecnologias sustentáveis para aprimorar o manejo dessa cultura, que vão desde a seleção das plantas matrizes para produzir mudas até a fase pós-colheita. “O manejo nutricional foi pesquisado e adaptado aos novos cultivares, possibilitando ajustes precisos que proporcionam qualidade de raízes colhidas e saúde das plantas”, destaca o extensionista Carlos.

O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças (SPDH), desenvolvido pela Epagri e já consolidado em Santa Catarina, tem sido fundamental para a expansão dos cultivos de mandioquinha-salsa com sustentabilidade e excelentes resultados nas lavouras. Hoje, essas práticas estão presentes em mais de 30% das áreas de mandioquinha-salsa.

... O Sistema de Plantio Direto de Hortaliças contribui para difundir a produção sustentável no Estado

O SPDH é baseado na promoção da saúde e no conforto das plantas para que elas expressem ao máximo seu potencial produtivo. Esse sistema prevê práticas como a nutrição baseada nas taxas diárias de absorção de nutrientes (TDA), a cobertura permanente do solo com palha, o uso de plantas de cobertura e a rotação de culturas, contribuindo também para o sequestro de carbono e o enfrentamento às mudanças climáticas.

Produção com preservação

A combinação de bom material genético com as melhores práticas na lavoura é poderosa: com essa fórmula, os produtores de mandioquinha-salsa têm alcançado resultados ambientais expressivos, como a redução de 70% no uso de fertilizantes e de 65% em agrotóxicos. A erosão nas lavouras caiu 90% e o uso de irrigação foi eliminado nas áreas de cultivo em SPDH. “A qualidade das raízes é alta, com índice de aproveitamento comercial acima de 90%, e garante um produto de excelente qualidade para o consumidor”, acrescenta Carlos.

Oferecendo capacitações em diferentes regiões, a Epagri trabalha para expandir esse cultivo em Santa Catarina. Desde o início do Projeto Integrado de Mandioquinha Salsa, em 2021, a Empresa realizou mais de 4 mil atendimentos a famílias de todo o Estado e capacitou cerca de mil produtores. O envolvimento das famílias, que foi fundamental para o renascimento dessa cultura em Santa Catarina, também é a chave para a expansão da cadeia produtiva com sustentabilidade.

     

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