Nova doença é encontrada em pomares brasileiros de quivi

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Técnicos da Epagri, empresa do governo de Santa Catarina, identificaram a doença da mancha de fuligem em folhas de um pomar de quivi localizado no município catarinense de Bom Retiro. Este é o primeiro relato da doença causada pelo fungo Pseudocercospora actinidiae fora do continente asiático. Medidas legais de contenção e erradicação foram adotadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) para evitar que a doença se dissemine para outros pomares no Brasil.

Doença é caracterizada por causar manchas aveludadas de coloração negra nas partes inferior e superior da folha (Foto: James Oscar Vieira)

A doença foi constatada na clínica fitopatológica da Estação Experimental da Epagri em São Joaquim (EESJ) e os estudos moleculares do isolado fúngico foram realizados em parceria pelo Agronômica Laboratório de Diagnóstico Fitossanitário e Consultoria, de Porto Alegre. O pesquisador EESJ, Leonardo Araujo, explica que a doença é presente na China e Japão, e é caracterizada por causar manchas aveludadas de coloração negra nas partes inferior e superior da folha. 

A mancha de fuligem pode provocar forte desfolha, comprometendo a produção no ano em que ocorre e no seguinte, devido ao comprometimento de acúmulo de reservas na planta. “Além disso, em condições de alta incidência pode haver infecção de frutos, com a presença de pequenos pontos aveludados, de cor cinza que expandem para manchas maiores. Assim é provável que a mancha fuligem possa trazer impactos para a cultura do quivi, caso ocorra disseminação de fundo P. actinidiae no país”, diz ele.

Folhas com manchas na parte inferior (Foto: James Oscar Vieira)

De acordo com o pesquisador da Epagri, a mancha fuligem pode ser causada pelo teleomorfo do fungo Leptosphaeria sp., ou anamorfo P. actinidiae. Na fase primária, o patógeno sobrevive durante o inverno nas vinhas doentes e folhas caídas no solo. Na primavera esporos do fungo podem ser depositados sobre folhas que germinam. Quando isso acontece, o fungo penetra nos tecidos do quivi e posteriormente a planta apresenta os sintomas característicos da doença. Nas folhas com manchas aveludadas de coloração negra predomina a fase secundária do patógeno, quando pode ser dispersado pelo vento e pela chuva e é responsável pelos surtos epidêmicos nos pomares em produção. “Altas temperaturas e chuvas podem acelerar a infecção, mas a ocorrência e dispersão são dependentes da resistência de cada cultivar”, salienta.

Detalhe de folha com manchas na parte superior (Foto: Leonardo Araujo)

Leonardo afirma que é difícil prever como será o comportamento da doença em relação à epidemiologia e à adaptação ao ambiente encontrado no Brasil. “Além disso, não são conhecidos os níveis de susceptibilidade dos principais cultivares produzidos no país, já que o fungo foi detectado nos cultivares Hayward e Rainbow Red, pouquíssimos cultivados no País. No entanto, no Sul brasileiro elevados índices de precipitações e temperaturas amenas são registrados ao longo do ano, favorecendo o desenvolvimento de doenças fúngicas”, alerta o pesquisador.

Apesar das plantas sintomáticas em Bom Retiro terem sido erradicadas, Leonardo ressalta a importância de técnicos e produtores se manterem informados e atualizados sobre a mancha fuligem do quivi para que possam detectar qualquer sintoma suspeito e com isso se consiga uma diagnose precoce, aumentando assim a probabilidade de erradicação da doença, caso haja alguma nova introdução. Na China e Japão, o manejo recomendado é aplicação de calda sulfocálcica antes da brotação, a remoção das vinhas sintomáticas e aplicação de fungicidas a cada 20 dias durante o ciclo.

O assunto foi publicado na revista Australasian Plant Disease Notes. Leia o artigo na íntegra aqui.

Informações e entrevistas:

Leonardo Araujo, pesquisador da Epagri, pelo fone: (49) 3233-8438

Informações para a imprensa:
Gisele Dias, jornalista: (48) 99989-2992 / 3665-5147