Pesquisa aponta caminho para controle do capim-annoni

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Condição inicial da área do experimento

Controlar o capim-annoni (Eragrostis plana Nees) é um dos principais desafios dos pecuaristas do Sul do Brasil. Essa planta invasora que tem comportamento agressivo de infestação e supressão das pastagens é alvo de pesquisas de um grupo de instituições que buscam a forma mais eficiente de controlá-la. A Epagri participa desse trabalho que encontrou um caminho para reduzir os danos da espécie.

O capim-annoni é rejeitado pelos animais porque tem baixa qualidade (7% de proteína e 50% de digestibilidade) quando comparado com outras plantas forrageiras. “Isso faz com que os animais exerçam maior pressão de pastejo sobre as espécies nativas que, por consequência, não conseguem competir por recursos como água, luz e nutrientes com a invasora”, detalha Cassiano Eduardo Pinto, pesquisador da Epagri na Estação Experimental de Lages (EEL). Como resultado, ele acaba suprimindo a pastagem natural, que se torna degradada e de difícil recuperação.

Pastagem recuperada depois do tratamento

A capacidade de dispersão da planta dificulta o controle. O capim-annoni produz uma grande quantidade de sementes, superior a 14 mil por planta/ano, com viabilidade acima de 90%. “Como elas são muito pequenas, são facilmente disseminadas pelo vento e penetram nas cavidades do solo, formando um banco de sementes com longa persistência”, diz Tiago Celso Baldissera, pesquisador da Epagri/EEL. Além disso, o gado ajuda na dispersão porque as sementes ficam na inflorescência da planta, que é a parte mais consumida. Boa parte das sementes germina nas fezes, aumentando a velocidade e a intensidade da invasão.

Para controlar essa espécie, a Rede de Pesquisa em Eragrostis plana, liderada pela Embrapa Pecuária Sul, reúne mais de dez instituições da Região Sul. Dentro desse grupo, a Epagri, a Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná, a Universidade Federal do Paraná e a Fazenda Colônia se reuniram em um experimento para definir métodos de manejo do solo e da pastagem para controle do capim-annoni.

O controle é realizado com aplicação de glifosato utilizando o equipamento Campo Limpo (desenvolvido pela Embrapa) e sobressemeadura de pastagem. O trabalho também envolve adubação de base e ajuste de carga para que as forrageiras de interesse econômico cubram o solo e promovam competição com as plantas indesejadas.

Os pesquisadores estão avaliando o desenvolvimento da pastagem e o impacto do manejo sobre o capim-annoni. Em dois anos de experimento, dados preliminares mostram uma redução de 42% na população de capim-annoni na comunidade vegetal de uma pastagem de Brachiaria brizantha cv. MG5. A presença da invasora caiu de 24% para menos de 10%.

As pastagens foram manejadas com oferta adequada de pasto, proporcionando um desempenho durante o verão (novembro a março) de 0,55kg de peso vivo/animal/dia, ganho de 290kg de peso vivo/ha/ano e carga média de 5,5 animais/ha. “O manejo adotado manteve o capim-annoni em uma população que não provocou dano econômico, transformando uma pastagem degradada em uma área com alto potencial produtivo no sistema para a pecuária de corte”, destaca o pesquisador Fábio Garagorry, da Embrapa Pecuária Sul.

Seis décadas de invasão

O capim-annoni foi detectado em 1957 em Tupanciretã (RS). Acredita-se que tenha chegado ao Brasil em um lote de sementes de capim-de-rhodes importado da África do Sul. Embora aqui seja uma praga, no país de origem o capim-annoni não tem esse comportamento.

Há focos de infestação em diferentes níveis de intensidade no Sul do Brasil. Estima-se que tenha ultrapassado 20% da área com vegetação nativa no Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, faltam informações sobre o avanço da espécie, por isso um dos objetivos da pesquisa é mapear e entender os processos de invasão no Estado. “Aplicamos mais de 200 questionários em todas as regiões de Santa Catarina e 49,8% dos entrevistados afirmam que o capim-annoni é um problema em áreas de cultivo agrícola e com invasão em torno de 30% nas áreas de pastagem”, relata Cassiano.

Mais informações: Cassiano Eduardo Pinto, pesquisador da Epagri/Estação Experimental de Lages – cassiano@epagri.sc.gov.br, (49) 3289 6453.